terça-feira, 19 de junho de 2012

Desabafo de terça-feira

É terça-feira e ainda não estudei nada. Pois é, estou em época de exames e tenho muito para estudar, mas pouca vontade para o fazer.
Sei que não estão propriamente 35ºC à sombra, mas ainda assim não consigo evitar pensar nas demais coisas que podia estar a fazer, tivesse eu outra vida, outra rotina, outra existência.
Foi a meio dos metabolismos de xenobióticos que reparei que a molécula de Diazepam pode sofrer hidroxilação numa posição pelo citocromo P450 e noutra, por hidroxilação aromática. Pois... parece que não é uma informação tão interessante para vocês quanto isso, a não ser que estejam a fazer Química Farmacêutica I, como eu. Mas curiosamente foi a estudar isto que me ocorreu fazer alguma leitura on-line. E foi aí que li uma coisa que me deixou sem saber o que pensar, sem querer ler mais uma única frase, mas ao mesmo tempo sem conseguir parar. Pois é, a situação parece que é complicada.
Saltei a parte dos dadores e aceitadores de Hidrogénio; recuso-me a dar o mesmo erro que dei na frequência que chumbei, e nunca mais hei-de confundir uma base com um ácido. E dessa forma não posso também confundir as coisas: não é não, e uma amizade é muito importante, quanto mais duas. De facto, dá para brincar com a química, mas não com aquilo que se eu perder, perco tudo.
Nesta altura é que eu gostava de ser uma metabolizadora rápida, para tirar isto do meu sistema. Farmacologicamente falando podes inibir muita coisa, podemos retardar a libertação de muita coisa, mas o que fica pode tornar-se tóxico e destruir-nos o fígado e os rins.
Acontece que no meio de tudo isto, eu e a minha amiga M. somos muito parecidas. Ainda no outro dia, ela perguntou-me se seríamos a mesma pessoa, porque eu tinha acabado de publicar no facebook o mesmo que ela ia publicar também, naquele instante. No outro dia ela estava em baixo, e não por baixa glicémia, mas sim emocionalmente de rastos. Estava eu a estudar para tecnologia farmacêutica, mas não podia deixar de lhe responder. Sabia o estado em que ela estava e apoiá-la era mais importante que as mil e uma razões pelas quais se revestem comprimidos. Após umas 2h de conversa, muitos desabafos e algumas lágrimas, descobri que o problema dela era o mesmo que o meu: tanto eu como ela fomos capazes de pôr o nosso coração aberto a algo que não resultou, e sofríamos com isso.
Enquanto conversámos, eu falei-lhe da minha experiência e ela da dela. Nem eu nem ela falámos em nomes porque conhecemos, tal como ela disse, tudo da vida uma da outra. E também porque ambas conhecemos as pessoas em causa. A diferença? Eu hoje soube de quem é que ela falava. E como por vezes nem sempre os mecanismos por detrás de metabolismo A ou B estão bem descritos, também estas coisas são complicadas. É que actualmente ambas gostamos da mesma pessoa. Um amigo comum que, apesar do que diz e da forma como age, é um verdadeiro amigo, uma pessoa 5*. E se calhar é por isso mesmo que nos sentimos assim por ele. Mas, à semelhança da M., também eu já tive um não, e sei o que isso custa. Interpretei esse não como o Karma a dar-me nas orelhas, do que eu tinha feito antes, do que ainda me torturo por ter feito. Mas ela simplesmente não merece.
A certa altura, começámos a achar que éramos nada mais que enzimas sem substrato enzimático, que éramos moléculas impedidas estéreamente de sofrer reacções de adição para formação de uma nova molécula...
E enquanto finalmente percebo o propósito da existência de uma álcool desidrogenase e que o produto desta pode ser o substrato da aldeído desidrogenase para dar um ácido carboxílico me despeço. E, claro, porque hoje é terça-feira, tenho exame daqui a uma semana e ainda não estudei nada.

Entretanto, na minha rua está um rapaz a andar de bicicleta de costas no meio da estrada. Espero que ele caia, preciso de descomprimir ahahah

Beijinhos  ;)


P.S. parece que a intoxicação por metanol se cura com... ETANOL e com um composto de nome 4-metilpirazole (se bem que este tira a piada toda à dita intoxicação  ahahah  )

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