terça-feira, 14 de outubro de 2014

Voltei, voltei!!

Olá!

Para os interessados, não, não passei os últimos seis meses a viajar pelo mundo. Infelizmente, porque isso tornaria este post num texto bem mais interessante do que vai ser. Na realidade, passei os últimos 6 meses a estagiar e sou, desde o passado dia 6, finalmente Mestre em Ciências Farmacêuticas.


Quando comecei a escrever este texto, faltavam cerca de 38 horas para a minha defesa da tese, e os meus níveis de stress eram altíssimos. Uma apresentação de 20 minutos (no máx.), mais todo um interrogatório sobre a mesma e sobre o meu estágio em farmácia comunitária. Foi uma hora muito intensa, que começou com um atraso de meia hora. Calcei as sandálias de salto, vestida a rigor para o evento e, juntamente com duas amigas daqui e mais uns quantos de lá, lá fui eu enfrentar a mui temida defesa. Passou a correr, e foram precisos alguns dias para me cair a ficha de que o percurso de 5 anos que, a bem dizer, foram 17, já tinha terminado.


A experiência de atendimento ao público foi, como todos os que contactam diariamente com pessoas, PECULIAR. Encontrei de tudo! Pessoas mal-dispostas, mal-criadas, que, vendo-me com idade para ser sua filha, me davam sermões, etc. Essas pessoas tornavam os meus dias muito maus... e logo eu, que estava ali apenas para os ajudar. O que aliviava todo este meu stress eram as pessoas boas. Aquelas pessoas, na maioria idosos, que, vendo-me como sua neta, compreendiam o meu drama de estagiária, a minha dificuldade em fazer tudo depressa e as minhas dúvidas, e que eram fofinhas o suficiente para me dizerem que não havia problema se o atendimento demorasse mais uns minutinhos. Essas pessoas eram as mesmas que viam além das minhas dúvidas e das inseguranças que eu tentava esconder, e que se mostravam receptivas ao meu aconselhamento e às minhas recomendações. Eles viam-me como sua neta, e eu a eles como meus avós e, à semelhança do que faço com os meus, tentava ajudá-los a melhorar a sua qualidade de vida, assim como me mostrava disponível para esclarecer quaisquer dúvidas.

Alguns queriam apenas ser ouvidos - triste como muita gente vive sozinha e completamente isolada de contacto humano. E dessa forma, uma simples análise ao colesterol ou uma dispensa de um ben-u-ron serviam de pretexto para um desabafo. Sentia que os ajudava mais ao ouvi-los do que propriamente a minorar-lhes os sintomas físicos. Daqueles que mais me lembro, conta-se um senhor que dizia sempre que eu era muito bonita (a mim e a todas ahahhaha mas era querido na mesma!), uma senhora que vinha sempre ter comigo e que trazia sempre imensas dúvidas e um casal que me perguntava sempre se o estágio estava a correr bem, se estava a ser bem tratada, etc. Uns queridos que hei-de trazer sempre comigo e aos quais nunca poderei agradecer suficientemente a preocupação.


Seguiu-se a procura de emprego. Não foi fácil, de todo. Percorri todas as farmácias daqui a pé a entregar CVs. Consegui duas entrevistas para estágios profissionais que correram bem, apesar de não serem exactamente aquilo que eu desejava. Sei que a situação está complicada, mas eu não desisto. Aceitei um dos estágios, aquele que me pareceu melhor, mas continuo à procura, continuo a mandar currículos, porque sei que não posso desistir. Não posso mesmo, porque eu mereço melhor. Porque estudei toda a vida para ter uma vida melhor e sei que nem que tenha de ir para longe de casa o irei conseguir. Porque a garra que sempre me acompanhou não desapareceu, nem de perto nem de longe!


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